Mais de duas centenas de milhões de pessoas, distintas em necessidades imediatas e com esperanças acumuladas, ocupam os 8,5 milhões de quilômetros quadrados do território brasileiro.
Cada quadrante desse território guarda histórias da escravidão, da violência contra trabalhadores rurais, das greves do operariado, do desemprego, das privações alimentares, do desamparo institucional etc. Histórias frequentemente silenciadas pela violência.
Encontramos, também, em cada um desses quadrantes, as marcas do Estado Social. O Estado Social, construção política imperfeita e incompleta, protege o cidadão do mesmo modo que a epiderme protege a derme – são realidades inseparáveis.
Olhe para os lados. Quem nunca deu passagem na rua para uma ambulância do SAMU? Quem nunca observou um idoso adquirindo medicamentos em uma Farmácia Popular? Quem nunca levou o filho em uma campanha de vacinação?
Continue, como uma criança curiosa, espiando o entorno. Observe idosos pobres e pessoas com deficiência e pergunte-se como sobreviveriam sem o Benefício de Prestação Continuada?
Pense no que a mesa posta do almoço revela. A Aposentadoria Rural e o Programa de Fortalecimento da Agricultura Familiar garantiram a redução da pobreza, o aumento na produtividade agrícola e a segurança alimentar para todo o país.
Abaixe os vidros do seu carro para sentir a atmosfera da cidade. O Bolsa Família, programa de transferência de renda majoritariamente urbano, alivia a fome de milhões de pessoas.
Agora mire para o espelho. Pense na escola pública que estudou ou na universidade pública onde conseguiu a profissão que lhe permitiu, no mínimo, alimentar a expectativa de mobilidade social.
Esse será o esforço do Observatório do Estado Social. Convidá-los a olhar para os lados e, talvez, ajudá-los a reconhecer que o Estado Social, mesmo com todas as suas imperfeições, tornou-se imprescindível para a reprodução da vida da maior fração da população brasileira.
O Estado Social é o maior ativo de nossa jovem, confusa e ameaçada democracia.